Em busca da verdadeira Iram a Cidade dos Pilares
Era a cidade mais rica do mundo.
O Alcorão se refere a Iram (ou Irem) como
a cidade cujas avenidas eram pavimentadas com ouro e prata. Cujos prédios
tentavam ascender rumo ao céu e cujo povo se cobria de jóias e riquezas que
transbordavam graças ao incessante comércio.
O livro sagrado dos muçulmanos vai ainda mais longe. Diz que a cidade de
Iram era uma jóia em meio ao árido deserto de Rub Al-Khali,
localizado na Península arábica no atual Sultanato de Omã.
Segundo os textos sagrados Sheddad, o Rei de Iram decidiu
construir um lugar na terra tão belo e rico que poderia rivalizar com o que ele
imaginava ser o Paraíso. Ele chamou seus fiéis servos e ordenou que eles
construíssem esse lugar mágico. As obras levaram mais de trezentos anos,
incluindo a construção de grandes palácios, gigantescas torres abobadadas,
minaretes decorados, praças e mercados, além de lagos artificiais, bosques e
inexpugnáveis fortalezas para defender o lugar de invasores. A entrada da cidade
possuía dois portões de bronze e muradas de pedra que a envolviam por inteiro.
As casas e palácios eram ornamentados com pedras preciosas encrostadas e uma
arquitetura única.
Mas o orgulho seria a razão da queda de Ubar, pois o povo que lá vivia se
tornou decadente e se entregou a todo tipo de excesso. Os descendentes de
Sheddad acreditavam que realmente viviam no paraíso e não precisavam mais
respeitar Deus para garantir sua recompensa na outra vida. Deus enviou um
profeta para alertar aos habitantes de Iram, mas eles não quiseram ouvir o homem
santo. O profeta foi ridicularizado, depois seu corpo foi flagelado por chicote,
seus olhos vazados e sua língua arrancada e pregada em um poste na praça
central. A Ira de Deus então desceu sobre Iram e seu povo.
A cidade foi fustigada pela areia do Rub al-Khali em uma tempestade jamais
vista, até que as torres foram soterradas, as alamedas tomadas pela aridez e os
poços secaram. O povo caiu em desespero, a ventania furiosa arrancava a carne
dos ossos e a poeira cegava quem olhava para o horizonte. No último momento
tentaram se arrepender, mas a ira divina que se abateu sobre a outrora orgulhosa
Iram foi impiedosa. No fim, nada restou da gloriosa cidade que desapareceu da
vista dos homens a não ser a memória de suas maravilhas e da corrupção de seu
povo.
Para quem achou a estória familiar, saiba que ela pode muito bem ter sido a
base para a parábola de Sodoma e Gomorra, as cidades que foram
varridas da face da Terra pela fúria de Deus conforme o Antigo Testamento. Assim
como Iram, Sodoma e Gomorra eram cidades ricas, entrepostos comerciais
importantes, em que o povo havia se entregado a vícios e atos desrespeitosos
(alguém já se perguntou de onde vem a palavra sodomia?). Como muitas das lendas
possuem uma base no mundo real, quem sabe não foram as estórias sobre Iram que
geraram o trecho sobre as cidades gémeas.
Segundo as lendas, Iram teria sido fundada em 3000 AC e destruída dois mil
anos mais tarde. Ela teria sido um importante entreposto comercial com a Europa,
uma importante cidade que se localizava no coração da Rota do
Incenso que levava sândalo, óleos aromatizados e incenso para os ricos
e ávidos romanos. Mas a verdade é que Iram sempre foi considerada na melhor das
hipóteses como uma lenda.
Há entretanto algumas poucas menções a ela além da parábola do Alcorão.
Arqueólogos que descobriram as ruínas da cidade de Ebla na
Síria, encontraram documentos em que uma certa Iram é citada como importante
parceiro comercial. O mesmo documento afirma que a riqueza das casas mercantis
de Iram era tamanha que empalidecia o próprio palácio real de Ebla.
O historiador grego Plotomeo também descreve a existência
de Iram chamando-a de Ubar, nome da maior das casas de comércio em seu apogeu.
Em um mapa desenhado no século II, Ptolomeo apontava uma região que chamava de
"terra dos ubaritas" que segundo ele era o berço de uma civilização que
construiu uma magnífica cidade no deserto. Ubar aliás passou a ser um sinónimo
da cidade perdida e gerou certa confusão entre pesquisadores que em determinado
momento as consideravam como cidades diferentes.
Lendas a respeito da cidade perdida coberta pelo deserto continuaram a
cativar a mente de exploradores e chegaram intactas ao século XX.
Tanto que o aventureiro militar britânico T.E. Lawrence (o
famoso Lawrence da Arábia) tinha planos de realizar uma expedição de busca para
encontrar as ruínas de Iram. Lawrence chamava a cidade de "Atlântida das Areias"
e acreditava que sua descoberta seria um marco para a arqueologia. Ainda segundo
as anotações de Lawrence, Iram era um centro cultural extremamente avançado
similar a Atlântida do Ocidente. Uma cidade com arquitetura megalítica cujas
torres elevadas de mármore e pilares finamente decorados maravilhavam os
visitantes. Mais atraente ainda era o fato de que Iram era considerada uma
cidade amaldiçoada pelos beduínos. Esse temor teria preservado as riquezas da
cidade da ação de ladrões ao longo dos séculos. A expedição jamais foi
realizada, pois a campanha na Arábia durante a Grande Guerra preencheu todo o
tempo de Lawrence.
Em 1932 coube a outro explorador britânico, Harry St. John
Philby embarcar em uma expedição para encontrar as ruínas de Iram.
Apesar de não ter tido êxito em localizar a cidade ele fez uma notável
descoberta ao encontrar as incríveis Crateras de Wabar - que
são profundas crateras no solo do deserto criadas a partir do impacto de
meteoritos que transformaram a areia em vidro.
Também na década de 30, Bertrand Thomas lançou as bases
para encontrar antigas rotas de comércio que segundo sua teoria levariam a Iram.
Bertrand encontrou indícios de estradas usadas na antiguidade por caravanas, mas
não chegou ao seu almejado destino. Na década de 50, foi a vez do arqueólogo
americano Wendell Phillips de cruzar o mar de dunas em busca da
Atlântida do Deserto. Infelizmente ele voltou para casa apenas com alguns poucos
artefatos recolhidos no solo pedregoso.
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